Pontos corridos ou mata-mata? Essa é uma polêmica que
permeia o mundo do futebol há algum tempo. Não restam dúvidas de que o formato
de disputa de uma competição influencia nas estratégias das equipes, e PODE ser
componente essencial no fator emoção. O questionamento então é: qual o melhor
modelo?
(Folha de São Paulo, 18 de dezembro de 2002) |
Desde 2003, o Campeonato Brasileiro é disputado em pontos
corridos, seguindo os moldes das grandes ligas do mundo como Premier League
(Inglaterra), La Liga (Espanha) e Série A (Itália). Desta forma, a CBF deixou o
mata-mata para a Copa do Brasil e a Copa Libertadores, que é organizada pela
Conmebol e também é jogada desta forma.
Logo na primeira edição dos pontos corridos, o Cruzeiro
disparou na frente e terminou o campeonato com 100 pontos, 13 a mais que o
segundo colocado Santos. Importante lembrar que, aquela edição teve 24 times e
não 20 como atualmente. Naquele ano também, a raposa papou a Copa do Brasil, o
que não deu tantas brechas para questionamentos, pois o Brasil reconheceu a superioridade
do time mineiro.
Cruzeiro da temporada 2003 - Foto reprodução Imortais do Futebol |
Já nos outros anos até o final da década, a exceção de 2007,
a competitividade foi maior, sendo que os campeões tiveram no máximo 3 pontos
de diferença para o segundo colocado. Mas a partir de 2013, o cenário mudou e,
desde então, as diferenças entre líder e vice-líder são grandes, sendo a menor
delas de 9 pontos, em 2016 e 2017.
Por si só, essa folga na liderança já esquentou os debates
entre prós e contras dos pontos corridos. Os favoráveis alegam justiça ao time
mais regular. Os contrários dizem que o modelo tira a graça do campeonato. Agora
outro elemento entrou nesse campo de discussões e parece favorecer aqueles que querem
o fim dos pontos corridos.
Com as mudanças na Copa do Brasil e Libertadores, estendendo
o calendário de disputa até o final do ano, os clubes brasileiros estão jogando
o Brasileirão pra escanteio. Por mais que dizem que não, a competição nacional
tem sido abandonada por quem está na disputa pelas duas copas.
Renato Gaúcho adota rodízio de jogadores no Grêmio - Foto reprodução Hoje em Dia |
Isso ficou claro no ano passado com o Grêmio apostando tudo
na Libertadores e colocando os reservas no Brasileiro, e está ainda mais nítido
neste ano, com mais clubes fazendo isso, como Cruzeiro e Palmeiras, além do
próprio Grêmio. Afinal, o Campeonato Brasileiro é ou não importante? Será que
ele se tornou uma espécie de Estadual?
Usando o Cruzeiro como exemplo, o time de Mano Menezes não
ganha há quatro rodadas, sendo que nas duas últimas, a raposa jogou com equipe
reserva. Ainda assim, o Cruzeiro é o oitavo colocado e está há 5 pontos do G6.
Ou seja, se tivesse dado o mesmo valor que dá às outras competições poderia
(não é uma certeza) estar entre os 4 primeiros colocados ou até disputando a
liderança.
Mano Menezes e a diretoria já disseram que as prioridades são
a Libertadores e a Copa do Brasil, competições em que o Cruzeiro tem boas
chances de avançar para as próximas fases. Mas e se não passar?
Mano Menezes convive com críticas da torcida por poupar os principais jogadores |
A justificativa dos treinadores é que os jogadores não
aguentam físico e psicologicamente a carga de jogos das competições em tempos
curtos de recuperação. Domingo joga, descansa segunda, terça faz um treino e
viaja, e quarta entra em campo novamente. Realmente é exaustivo e uma hora o
corpo do atleta acusa o golpe. Por outro lado não podemos ignorar o Brasileirão. Um dos principais torneios do mundo não pode ser terceira opção.
Está na hora de a CBF estruturar um novo calendário, que
prestigie jogadores e torcedores, peças-chave do espetáculo chamado futebol.
Não apenas a CBF decidir sobre isso. Deveria chamar os clubes e debater qual
seria o formato e o período ideal de disputa para que possamos ter competições
de alto nível e que deem ao torcedor o prazer de ir ao estádio assistir seu
time jogar.
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