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Mulher e Futebol: Um casamento que dá certo, sim


No país do futebol, as mulheres ainda estão longe, mas bem longe – e bota longe nisso - de terem as mesmas oportunidades que os homens na principal cultura esportiva brasileira. Apesar de termos a melhor jogadora da história do futebol feminino, a rainha Marta, o Brasil ainda é um país que deixa a desejar quando o assunto é mulheres jogando bola.  

Foto: Reuters

Eu não estou escrevendo isso por achismo, por entender que a realidade que eu vivo é diferente do que realmente acontece. Escrevo isso, baseado, principalmente, no estudo “Suplemento de Práticas de Esporte e Atividade Física” da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios – PNAD 2015, a mais recente edição.

Segundo a pesquisa, em 2015, o país tinha 161,8 milhões de pessoas de 15 anos ou mais, sendo que 61,3 milhões praticavam algum esporte ou atividade física. Desse total, 46,1% eram mulheres e 53,9% homens. Portanto, o levantamento mostrou que homens praticam mais esporte que mulheres. O que, convenhamos, também não é novidade. Agora, quando filtramos o assunto para a participação no futebol, a pesquisa revelou que mais de 15 milhões de pessoas praticavam futebol em 2015, sendo que, a maioria esmagadora, 94,5%, era composta por homens.

De 2015 pra cá, pouco mais de dois anos se passaram, mas não mudou muita coisa em relação ao público feminino no futebol. Se não fosse a vontade e o sonho de ganhar a vida com o futebol – que aliás não é lá um salário tão digno assim, infelizmente - muitas mulheres teriam desistido há muito tempo, pois a desproporcionalidade do esforço e da valorização é muito grande.

A própria Confederação Brasileira de Futebol (CBF) caminha a passos lentos para reconhecer o potencial de nossas mulheres. Das 19 competições que a entidade organiza, apenas 4 são voltadas para o futebol feminino. Para tentar incentivar mais, em 2017, a CBF determinou que, a partir de 2019, os clubes de futebol do Brasil que não tiverem um time feminino disputando competições nacionais estarão proibidos de disputar a Copa Libertadores. Até o fim de 2017, dos 20 clubes da série A, só sete tinham times femininos.

Isso não deveria acontecer, mas, sim, a CBF “obrigou” que os clubes deem oportunidades para as mulheres. É a mesma coisa que uma mãe obrigar o filho a deixar o irmão mais novo jogar o vídeo-game que ela comprou para os dois. (meio pobre essa comparação, mas deu pra entender)


E para finalizar, diante dessa pouca participação e oportunidade para as mulheres no futebol, os investimentos nos times femininos são pequenos se comparados aos investimentos nas equipes masculinas. As grandes empresas que injetam o dinheiro no esporte querem ter um retorno financeiro a curto ou médio prazo, o que não ocorre no futebol feminino. O público que acompanha é muito pequeno.

No ano passado, na primeira partida do Campeonato Brasileiro de Futebol Feminino entre Vitória e Flamengo, no Barradão, em Salvador, apenas 420 ingressos foram vendidos, o que rendeu um prejuízo de R$ 5.300.

Isso exemplifica que, não basta apenas incentivar e facilitar a participação das mulheres no futebol. É preciso um trabalho mais amplo, que atraia a torcida para os estádios e fomente o esporte. E não só atrair torcedores para o estádio em jogos das mulheres, mas também atrair mulheres para qualquer jogo, seja no masculino ou no feminino.

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