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Arapuca mexicana em Moscou


A Alemanha bem que tentou, mas a estreia na Copa do Mundo 2018 foi bem diferente da forma como terminou a de 2014. Os tetracampeões mundiais foram surpreendidos pela organizada e dedicada seleção mexicana e perderam por 1 a 0, em Moscou.

Foto reprodução macuxi.com

Pelos números parece que o resultado é mentiroso, já que os alemães dominaram a posse de bola, 61% contra 39%, chutaram mais ao gol, 27 vezes contra 12, cruzaram mais à área, 38 contra 8, e trocaram o dobro de passes, 523 contra 242. Mas esse cenário fazia parte da estratégia mexicana, de esperar o adversário e aproveitar pontos fracos alemães para marcar o gol.

“Ah, mas jogar no contra-ataque é covardia, é coisa de time pequeno, e blá, blá, blá” Isso se ouve muito hoje em dia, contudo, esse tipo de jogo reativo é uma estratégia, e como tal, tem o objetivo de vencer o duelo. Juan Carlos Osório, técnico do México, estudou bastante a Alemanha e conseguiu repassar aos seus jogadores tudo o que precisavam fazer para sair de campo vencedores.

Foto reprodução Uol

Primeira lição foi dar o mínimo de espaço possível aos jogadores alemães, sobretudo Özil e Kross. Eles são fundamentais na construção de jogadas da Alemanha e, se fossem neutralizados, dificilmente Müller e Werner receberiam a bola em boas condições. Essa ideia deu certo, tanto é verdade que, diante das dificuldades de jogar pelo meio a Alemanha apostou nas jogadas laterais, alçando várias bolas na área. Foram 38 cruzamentos, mas apenas 5 certos.

Para conseguir essa neutralização, o México marcou no 1-4-4-2, com a segunda linha de quatro marcando os avanços dos laterais e os jogadores de meio. A defesa foi muito sólida e errou pouco, o que deu consistência e segurança ao México.

A segunda lição foi aproveitar a lenta transição defensiva alemã. Kross e Khedira são atletas de ponta, que não precisam provar nada a ninguém. Mas não são perfeitos e um dos defeitos é a lentidão. O que o México fez para aproveitar disso? Chamou a Alemanha para o seu campo de defesa. Atraiu Kross e Khedira para jogarem próximos aos homens mais avançados, abrindo brechas na equipe alemã entre a linha do meio campo e os zagueiros. Os laterais também se arriscaram um pouco mais ao ataque, especialmente Kimmichi pelo lado direito.

Na foto, os dois laterais alemães (marcados com um traço vermelho) estão ocupando o campo de ataque

A partir do momento em que o México roubava a bola na defesa, a ideia era clara: atacar com o máximo de velocidade e em toques curtos para chegar rápido ao gol, com superioridade numérica e aproveitar os espaços na defesa alemã. Além do lance do gol de Lozano, o México teve outros 4 bons contra-ataques para fazer gols.

Khedira e Kross não acompanhavam os meias mexicanos e os laterais Kimmichi e Plattenhardt comeram poeira de Lozano e Layún. No gol mexicano ficou claro. Khedira avançou e perdeu a bola. E a partir daí, o México precisou de 11 toques para fazer o gol. No lance, os dois laterais alemães estavam quase no último terço de campo do ataque, Kross voltou lentamente e o zagueiro Hummels se perdeu no toque de primeira de Javier Hernández.

No lance que originou o gol do México, Khedira avançou ao ataque e perdeu a bola, abrindo espaço na defesa. Perceba que os dois laterais alemães também se lançam à frente. 

Na roubada de bola mexicana, Hernández é acionado rapidamente no ataque e num toque de primeira tira Hummels da jogada e ganha campo para progredir. Perceba como Lozano, autor do gol, está bem à frente de Kimmichi, o lateral alemão.

Terceira lição: a derrota não faz da Alemanha mais fraca ou menos favorita. Ainda é a Alemanha com bons jogadores que pode dar a volta por cima e ainda se classificar na liderança no grupo. Mas certamente, o resultado dá ao México olhares mais atenciosos dos adversários, por mostrar que pode bater de frente com as seleções da Copa. Com estratégia, dedicação tática e a boa técnica de alguns jogadores, o México se candidata a surpreender no Mundial. Ah, e além disso, vale destacar a torcida, que contra a Alemanha deu show no estádio em Moscou.

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